ESTE SITE E PATROCINADO POR LOMADEE.COM

ESTE SITE E PATROCINADO POR LOMADEE.COM SEJA UMA AFILIADO VOCÊ TAMBÉM:

terça-feira, 26 de junho de 2012

Consumo do futebol por meio de Turismo Sazonal e Participativo: Propostas para a Copa de 2014


Pesquisador de megaeventos esportivos, professor de Educação Física e oficial da Marinha do Brasil, Leonardo Mataruna discute viabilidades do Turismo para as cidades brasileiras para o Mundial.
Redação
Crédito: Arquivo pessoal
Leonardo Mataruna
Leonardo Mataruna
O brasileiro vibra ao falar de futebol, seja para jogar ou para assistir. Recordo de uma amiga aposentada que tem como diversão acompanhar as diversas partidas que as emissoras esportivas transmitem ao longo do dia. Para esta ilustre cultuadora do esporte da bola, como para milhões de brasileiros, não importa se está jogando o XV Piracicaba, Grêmio, Íbis, Milan, Barcelona ou Libermorro Futebol Clube, o importante é que a bola está rolando e com certeza, vem gol. Mas esse esporte que atrai espectadores em todo o País não é exclusivo da cultura brasileira. Diversos países adoram o futebol e são movidos por paixões que movimentam milhões de dólares em função deste esporte. A paixão gera o consumo de produtos e movimenta as pessoas na caminhada pelos seus desejos.
Neste sentido, destaco a movimentação da economia invisível, que muitas vezes passa despercebida na gestão de megaeventos. Essa tendência atinge o pré-evento, a preparação para chegar a um espetáculo da bola (passagens de avião, trem, ônibus, táxi ou combustível para o automóvel e o estacionamento), a venda de camisas,  de bandeiras e  de ingressos; durante o evento, o consumo de comidas e bebidas dentro dos estádios e a aquisição de novos produtos (cornetas, apitos e chocalhos); pós-evento, a continuidade gastronômica para celebrar ou afogar as mágoas em um debate ou análise do jogo nas periferias dos estádios. Quando o torcedor não se movimenta para o estádio, o momento pré e pós-evento não se alteram, já que a venda de ingressos é substituída pela assinatura de canais de TV a Cabo (Pay per view). O que seria adquirido ou consumido durante o Jogo, geralmente o torcedor obtém antes da partida, fazendo com que a economia invisível continue em giro.
Inicio este texto com um certo grau de informalidade para refletir sobre o que move as pessoas ao consumo. Destaco três vertentes: a paixão, a novidade (que desperta o sentido da curiosidade e experimentação) e o poder de compra, que no Brasil tem crescido com as mudanças das classes sociais de D para C e de B para A. Quanto maior for a economia de um país, maior será o seu consumo, esta é uma tese conhecida por economistas em todo o mundo e que com certeza se aplica no que tange aos megaeventos esportivos. Neste movimento da economia brasileira, o turismo esportivo ocupará um importante papel na próxima década.
Durante algumas épocas ao longo da “Década Esportiva Brasileira (2007 a 2017)”, poder-se-á explorar o turismo esportivo sazonal com uma perspectiva de inclusão social e com o caráter de pertencimento. O consumidor passa a se sentir parte do evento e adere não só aos produtos, mas preza, também, pela qualidade da imagem que o evento transmite, uma vez que ele, como turista ou cidadão, se coloca na posição de participante da organização por usar os produtos. Essa ação gera o turismo participativo, ampliando a busca por produtos ligados aos eventos, sendo importante estimular a compra e venda de produtos de uma determinada cidade e/ou evento em outra localidade diferente da origem. Isso funciona, por exemplo, com os clubes de futebol da Região Sudeste na Região Nordeste.
Em alguns estados onde o futebol local não é forte, por exemplo em Aracaju (SE), existem muitos torcedores do Flamengo e do Corinthians. Essa tendência também é encontrada em outros países onde o futebol local ou a seleção nacional não é representativa. Neste ano, durante o Campeonato Pan-Americano de Judô, na cidade de San Salvador (El Salvador), a competição foi antecipada em duas horas para que todos pudessem torcer por equipes de futebol da Espanha (partida entre Real Madrid x Barcelona). Inclusive, muitos salvadorenhos torcem pelo Corinthians e pela Seleção Brasileira de Futebol.
Do ponto de vista do turismo participativo, seria como a cidade de Foz do Iguaçu, no Paraná vendesse produtos da Copa da cidade mais próxima, Curitiba, e, por que não, de outras capitais também. Desta maneira, outras cidades passam a se sentir participantes do megaevento. Reforço isso porque no caso de megaeventos, como os Jogos Olímpicos, só é possível comprar produtos das modalidades nos ginásios que recebem seus jogos (somente se compram produtos do basquetebol, por exemplo, no ginásio onde as partidas são realizadas). Produtos comuns são vendidos em todas as partes, mas relativos às modalidades, apenas nos locais de competição. No caso da Copa do Mundo, camisas e produtos de divulgação das cidades-sede só são encontrados na cidade que recebe o evento.
Imagine que um cearense oriundo de Fortaleza esteja em São Paulo e queira adquirir uma camisa ou outro produto que inclua o estádio da sua cidade natal. Em princípio, só seria possível adquirir este produto no Ceará, mas se pensarmos em uma proposta inclusiva, este poderá ser distribuído em todo o Nordeste ou em todo o Brasil. Cidades mais próximas às fronteiras podem vender produtos relacionados a países que fazem fronteiriços, estimulando o turismo internacional de consumo de produtos. Cidades como Porto Alegre, Curitiba, Cuiabá e Manaus, saem na frente nesta possibilidade. 
 Existe uma necessidade de consumo do maior produto do evento, o futebol, isto é claro. As partidas fazem parte da razão que movimentam milhares de torcedores, mas antes do início e depois do fim do jogo, existem hiatos que devem ser explorados pelo mercado local de turismo. A Copa de 2014 é um evento internacional, mas que gera possibilidades de turismo sazonal interno antes mesmo de que o evento ocorra. Durante o evento, acredita-se que os nichos do Turismo nacional e internacional não serão afetados, contudo, e, principalmente, pós-evento deve-se explorar o legado na perspectiva de trabalhar com o planejamento dos Jogos Olímpicos de 2016. Pode-se dizer que o Brasil utilizará o legado de eventos como os Jogos Mundiais Militares, que ocorrem no Rio de Janeiro em julho de 2011, como forma de planejamento e exploração de produtos para a Copa das Confederações em 2013, numa sucessão de legados e planejamentos para os próximos megaeventos do País.
Importante destacar, também, a necessidade de produtos culturais relacionados ao evento a serem oferecidos nos três momentos (pré, durante e pós). Sabe-se da alta qualidade que o Museu do Futebol em São Paulo tem apresentado, assim como o Espaço Cultural do Maracanã, gerenciado pela Superintendência de Desportos do Estado do Rio de Janeiro (SUDERJ), que recebe milhares de turistas ao longo do ano. Entretanto, esses locais não serão suficientes para atender toda a demanda de pessoas que envolve este megaevento. São necessárias criações de novos espaços culturais, assim como a descentralização do estádio com única opção de lazer.
Um excelente exemplo de otimização de espaços públicos é a conversão de pontos turísticos em locais de concentração para acompanhar as partidas de futebol da Copa do Mundo. Em um exercício de reflexão, imagine se todos os brasileiros da Região Centro-Oeste do País, como a minha amiga que acompanha a todos os jogos, resolvessem ir ao Estádio Mané Garrincha, em Brasília, assim como os turistas estrangeiros? O resultado seria catastrófico, porque não só o Distrito Federal, com seu aparato hoteleiro, não comportaria e, tampouco, o estádio suportaria esta imensidão de torcedores. Uma proposta seria a criação de Núcleos Esportivos e Culturais (NEC) que valorizassem as cidades que não receberão nenhum jogo da Copa. Essas cidades podem e devem ser estimuladas como concentrações para treinamento das seleções que durante o evento se deslocariam para as cidades sedes onde seus grupos foram sorteados. Equipes que não se classificaram para a Copa do Mundo poderiam ser convidadas para treinar com as equipes classificadas nessas cidades, gerando microeventos. Outra proposta ocorreria na forma de mesoeventos, como o acompanhamento dos jogos em espaços públicos, mas com controle de acesso em virtude da segurança. Bons exemplos a serem investigados são: a utilização das Fun Fest da Eurocopa 2008 e a FIFA Fun Fest ao redor do mundo, em 2010. Esses espaços não devem ser apenas para assistir aos jogos, mas um espaço para a promoção da cultura. Outros modelos nesse mesmo segmento podem ser propostos, valorizando a cultura local, incentivando o folclore, a dança, a música, os times de futebol locais ou desafios esportivos, buscando feitos inéditos que outros países que receberam edições anteriores da Copa do Mundo de Futebol nunca realizaram.
Na perspectiva de ampliação do “círculo de abrangência do evento”, a cidade de João Pessoa, na Paraíba, não receberá nenhum evento, mas, geograficamente, está muito bem posicionada, com facilidades para se deslocar de carro ou ônibus para Recife e Natal, que serão sedes em 2014. A Paraíba pode ser um estado satélite com suas cidades, em específico com a capital, para receber turistas. Estes podem desfrutar das maravilhas naturais do Estado, aproveitar uma excelente programação cultural e ainda se deslocar para assistir aos jogos em duas cidades diferentes, além de utilizar o aeroporto e hotéis das cidades paraibanas.
As cidades menores pelo Brasil podem desenvolver atividades festivas no mesmo período dos megaeventos, evitando o êxodo total para as capitais. As secretarias de Turismo e Esporte estaduais poderiam se reunir com as secretarias municipais com o objetivo de discutir uma divisão de atividades a serem realizadas em paralelo aos megaeventos em diversas cidades, com o intuito de valorizar o turismo local e sazonal que serão proporcionados pela Copa do Mundo de Futebol de 2014.
 “Um jogo inesquecível foi a vitória do Madureira sobre o Americano por 1 X 0, na conquista da Taça Rio 2006 no Maracanã, já que ao longo da competição, o tricolor suburbano venceu grandes equipes como Flamengo e Fluminense.”
Leonardo Mataruna é professor de Educação Física e oficial da Marinha do Brasil, especialista em Estudos Olímpicos pela Academia Olímpica Internacional no campo de Gestão de Megaeventos, com Diploma de Distinção da Universidade de Loughborough da Inglaterra, pós-graduado em Treinamento de Recursos Humanos (ABT), pós-graduado em Docência do Ensino Superior (UCAM), pós-graduado em Judô (UFRJ), Mestre em Educação Física (UNICAMP), doutorando em Educação Física (UGF). Atua como docente dos Cursos do CEFAN. Esteve presente nos Jogos Olímpicos de 2000 (Sidney), 2004 (Atenas), 2006 (Torino), 2008 (Beijing), 2010 (Vancouver), em diversas atuações: espectador, voluntário e membro de comissão técnica.

Nenhum comentário:

Postar um comentário